PENSAMENTO

A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros” (C. S. Lewis)

25/05/2008

Como Deus escreve a vida.


Philip Yancey

“Para você, está ficando mais fácil escrever?” – perguntou alguém recentemente. Depois de três décadas ganhando a vida colocando palavras no papel, tenho que responder “não”. Quanto mais escrevo, mais consciente fico dos meus problemas, como clichês, buracos, imagens fracas e repetições. Quanto tento superar um outro desafio, como subir uma escada ou escalar uma montanha, digo a mim mesmo: “Sim, isto é mais difícil que escrever”.

Um dia, numa hora de riso, perguntei-me se Deus sabia alguma coisa sobre o processo que eu atravessava. Deus falou, mas escreveu? Procurei exemplos na Bíblia. Os Dez Mandamentos vieram logo à minha mente. Êxodo registra que Deus deu a Moisés duas tábuas inscritas pelo seu próprio dedo. A ênfase é que as tábuas foram uma obra de Deus; sua escrita foi gravar nas tábuas (Ex. 31.18; 32.16). Os eruditos dizem que as tábuas fixaram um tratado ou acordo entre Deus e os israelitas, a exemplo dos tratados entre outros governantes e seus súditos, os quais estabeleciam o que deveria ser esperado de cada parte. Diferentemente dos seus vizinhos, os israelitas não precisavam temer os caprichos de Deus, que tinha assinado um tratado honesto.

Quando Moisés desceu do Monte Sinai, contudo, os israelitas já tinham quebrado os dois primeiros mandamentos. Furioso, Moisés despedaçou as tábuas, o que levou Deus a reescrever algo pela primeira vez.

A cena seguinte sobre a escrita sobrenatural aconteceu na terra da Babilônia (atual Iraque), quando o rei Belsazar profanou os copos de ouro do templo em Jerusalém ao servir vinho neles para lubrificar seu grande banquete. Repentinamente, os dedos de uma mão apareceram e escreveram quatro palavras no reboco. O rei observou a mão enquanto ela escrevia. Seu rosto ficou pálido, e ele ficou tão assustado que os seus joelhos batiam um no outro e as suas pernas vacilavam” (Dn 5.5-6). Belsazar tinha razão para temer: naquela noite o poderoso império babilônico cairia diante dos persas (iranianos de hoje).

Os Evangelhos registram uma única ocorrência de Jesus escrevendo, e mesmo assim não consta dos manuscritos mais antigos (João 8.1-11). As autoridades religiosas tinham flagrado uma mulher no ato do adultério e arrastaram-na até Jesus para lhe armar uma arapuca. Por ter quebrado um dos Dez Mandamentos, merecia a morte, segundo a lei mosaica. Por outro lado, os romanos proibiam os judeus de praticar a pena capital. O que Jesus disse, na ocasião?

Ele não disse nada, mas se abaixou e escreveu no chão. Como escritor, acho humilhante que na única vez em que vemos Jesus escrevendo, Ele usa como meio a areia – para que as palavras fossem levadas pelo vento ou varridas pela chuva. Além disso, o autor não se ocupa em nos contar o que Jesus escreveu.

Quando finalmente falou, Jesus disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. A arapuca desarmou, mas para cima dos acusadores. Então, a única pessoa ali que estava sem pecado, e que tinha o direito de exercer o julgamento, abriu mão de fazê-lo.

O reino da graça emergiu.

Em outra situação, Jesus resumiu os Dez Mandamentos com um “Ame o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente” e também com “Ama teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem destes dois mandamentos” (Mt 22.37-40). Tomando por empréstimo uma imagem dos profetas, o apóstolo Paulo mais tarde falou de leis escritas no coração.

Ele disse aos coríntios (sim, aos animados coríntios): “Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos” (2 Co 3.3).

Encontrei poucas cenas em que Deus aparece como um escritor. Reunidas, elas mostram uma progressão em direção à graça, envolvendo cada membro da Trindade.

No entanto, os três meios – tábuas de pedra, reboco de parede e areia – não sobreviveram à devastação da história. A literatura de Deus vem passando de geração em geração. “Somos obras de arte de Deus”, disse Paulo aos efésios (2.10), usando a palavra grega “poiema”, do qual recebemos “poema”.

Depois de resumir as cenas em que Deus está escrevendo, não mais me senti tão incomodado. Compor palavras no papel é uma coisa; criar obras de arte sagradas a partir do ser humano é outra coisa bem diferente.
(Tradução de Israel Belo de Azevedo)

21/05/2008

FAZENDO A SUA VIDA


Lc 15.11-32 descreve dois irmãos: um obediente ao pai e outro, pródigo, que pediu sua parte da herança e partiu. Estória que ilustra o que podemos fazer com a vida que nos foi dada.

O pródigo esbanjou tudo, numa terra estranha, nos “prazeres da vida”. Num período de fome, trabalhando como guardador de porcos, desejava comer da comida deles. Um fim indigno de um ser humano.

O obediente ficou com o pai, porém, deixou-se amargurar por achar que nunca teve sua fidelidade recompensada; sentia-se mais empregado do que filho.

A exemplo deles, uns buscam o prazer, nisso, porém, jogando fora a vida. Outros, preferem a seriedade das responsabilidades, porém, acabam não se relacionando nem com os que amam. Tristemente sérios, deixam um rastro de gente machucada.

A exemplo deles: uns buscam uma aventura, uma paixão, um significado para a vida; entregando-se a todo o tipo de loucuras. Outros, mesmo sendo “certinhos”, não vêem a vida lhes sorrir. Terminam ora revoltados; ora conformados, porém, sem brilho nos olhos.

Parece que, ou se é sério, tendo por preço relacionamentos frios; ou se é intenso e paga-se com desventuras e riscos desnecessários.

De fato, ambos não entenderam o Pai, que propõe o casamento entre a seriedade e a festa; entre a responsabilidade e a aventura; a paixão e o compromisso. Uma vida que se realiza enquanto realiza.

Se alguém se vê, em alguma coisa, em um deles: No arrependimento o Pai o perdoará e o levará à vida onde amor e previdência; paixão e fidelidade; aventura e sobriedade se encontram. Uma vida abundante.

10/05/2008

A Cruz Como Metafísica de Todas as Coisas

(Caio Fabio)

A Cruz vem antes de todas as Coisas, e, portanto, também antes de todas as Quedas. Só houve a possibilidade de haver Liberdade — incluindo os terríveis riscos de haver Quedas— porque, antecipadamente, já havia o Cordeiro e Seu Sangue conhecido com efeito antes da fundação do mundo—sim! antes de todo e qualquer mundo. “Haja Cruz”—foi o grito que nenhuma criatura ouviu ser bradado, pois, Quem o bradou estava só! Esse clamor do Deus agonizante antes de parir Seus mundos—todos eles—, nenhuma criatura ouviu. Nem mesmo os anjos—os filhos de Deus que alegremente viram e cantaram a sabedoria de Deus na Criação— ainda não existiam para testemunhar esse Brado. Afinal, eles vieram depois dele. Daí a Cruz ter sido e ser para eles um mistério, aliás, o Mistério! Era um entendimento de Deus com Deus. E ninguém existia para ser Seu conselheiro. Daí ter sido também o Grande Mistério que nem Lúcifer conhecia. “Deus meu, Deus meu, por que me desamparas-te?”—fez-se ouvir antes que qualquer criatura ou criação experimentasse consciência de queda e desamparo! Pensar diferente é crer numa Cruz que veio depois—ou seja: sendo apenas uma tentativa divina de remendar Seus próprios erros como Criador e Sua culpa ante a Criação. Quando se diz que o Cordeiro de Deus foi imolado antes da criação do mundo, diz-se também que a provisão da Graça é a única Liberdade possível na Terra, pois, essa certeza do Amor Gracioso que se entregou pelos equívocos e pecados da Criação antes dela existir, carrega consigo uma profunda libertação da culpa de ser e de todas as fobias existenciais que ela patrocina. Estou convencido de que é somente vivendo com essa consciência em fé é que se pode experimentar a libertação de todo medo de ser, viver, existir e, também, pode-se assumir a própria consciência como o Santo dos Santos de cada indivíduo na Terra. Aqui começa a liberdade. Nenhuma liberdade que não nasça da consciência em fé de que este universo tanto é fruto do Amor de Deus quanto também de Sua entrega Sacrificial pela Criação pode ser chamada de liberdade. Isto porque antes de qualquer Criação existir a Cruz foi Erguida! Ora, é isto que pode nos fazer viver como pecadores livres do pecado-culpa de ser, que é a mais latente de todas as culpas que o ser humano conhece. O Perfeito Amor lança fora o medo! Só se perde o medo de ser quando se perde o medo de Deus! E isto só acontece em plenitude mediante a Liberdade que nasce da Graça Pré-existente de Deus, na entrega do Cordeiro Eterno, que é Cristo Jesus, o Nosso Senhor! No dia em que essa consciência em fé nos possui, acontece o funeral religioso da Teologia Moral de Causa e Efeito! “O Cordeiro Imolado Antes da Fundação do Mundo”—é, para mim, a afirmação apostólica cujas implicações incidem sobre todos os aspectos de qualquer que seja a compreensão cristã da Existência! Depois dela fica mais fácil entender como e porque Nele tudo subsiste, sem que isto implique em indiferença divina para com Sua Criação ou em solidariedade divina para com o mal que passou a habitar a Criação. Do contrário, por que seria Ele a Fonte Criadora e Mantenedora de Todas as Existências, sendo Ele, ao mesmo tempo, o Criador Eternamente Separado de considerável parte de Sua própria Criação? E isto enquanto a alimenta com energia de existir que nem sempre é usada na direção da Vida?! Num universo onde existe o mal, a inclusão dele como dependente da energia vital que procede de Deus só faz sentido se o Cordeiro tiver sido imolado antes que as partes que se desintegraram de sua comunhão com o Criador houvessem sido criadas. Isto porque é preciso diferenciar o Criador, de toda e qualquer escolha que na Criação tenha implicado em Queda. Digo isto ao mesmo tempo em que sei que não é possível fazer tal diferenciação completamente. E por que? É que fora de Deus não existe nada absoluto. Ora, algo é Absoluto quando é Auto-Existente. Todavia, há um só Deus e Pai de todos, que age por meio de todos e está em todos! Portanto, qualquer criatura existe em Deus, mesmo que sua livre escolha seja existir sem a Vida de Deus agora ou para sempre. Isto também é liberdade! e é sua mais terrível manifestação! A escolha pelo inferno de ser! O Cordeiro imolado antes da fundação do mundo é também a garantia de que qualquer criatura pode escolher existir eternamente danada, no inferno de suas resistentes escolhas enganadas. Afinal, até para que se tenha a liberdade de escolher não-ser-de-Deus tem-se que usar das graças naturais que Dele provêm a fim de nos manter existindo! Daí haver a Hora chamada de o Grande Dia da Ira do Cordeiro. A Graça oferecida desde antes da fundação do mundo, em sendo pisada pelos pés conscientes da indiferença, gera, ao final da presente era da consciência caída, o Dia do Juízo, onde Aquele que deu—e deu tudo—pela Criação, haverá de se levantar em seu favor e contra os seus espoliadores conscientes e insensíveis. O Grande Dia da Ira do Cordeiro é, paradoxalmente, o Dia da Graça para a Criação. É o juízo sobre os que devoram Terra, seus recursos, suas criaturas, seus oceanos, fontes de águas, suas maravilhas, e suas produções naturais. É também o Dia da Vingança sobre as Civilizações que existem para fazer com que sua cidadania na Terra produza cataclismos gerados pela bomba da cobiça, pelo des-amor aos recursos do Planeta e por causa de sua tirania sobre as demais criaturas—humanas ou não! Isto porque como a Cruz vem antes da Criação e como as criaturas gemem esperando o Dia da Redenção, então, pode-se dizer que toda a criação sente dores e agonias latentes pela Graça que pode redimir a toda criatura *

A GLÓRIA DE DEUS

A glória de Deus

Osmar Ludovico

Um milagre para a festa não acabar antes da hora. O vinho, símbolo da alegria e da festa, terminara. Jesus faz o milagre de transformar a água em vinho, e assim a festa e a alegria continuam.

Festa e alegria que, muitas vezes, não temos em nossas vidas. Começamos bem e terminamos mal nossas iniciativas. Pode acontecer com o casamento. Acabam a paixão e a festa, restam a desconfiança, a preocupação, a argumentação e as justificativas.

No milagre da multiplicação do vinho, nas bodas de Caná, a Escritura diz que Jesus manifestou a sua glória. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais, em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória e seus discípulos creram nEle (Jo 2.11).

Glória, no hebraico, é kadosh, que quer dizer peso, dignidade, esplendor. No grego é doxa, que quer dizer reputação, uma palavra que era também usada secularmente.

No Antigo Testamento, a glória de Deus era percebida pelos homens no contexto de manifestações grandiosas e sobrenaturais, como, por exemplo, a abertura do Mar Vermelho, o fogo no Sinai, a visita dos anjos a Abraão e a escada de Jacó.

Como entender a manifestação da glória de Deus nas bodas de Caná? A glória de Deus misteriosamente escondida neste acontecimento trivial: uma festa de casamento? O esplendor divino, a irradiação da dignidade de Deus, o peso de sua reputação, a riqueza de sua luz que invade a história dos homens estava naquela festa.

Como é possível que a esplendorosa glória de Deus estivesse completamente presente no milagre generoso de prover mais vinho para que a festa não acabasse antes da hora? Este é o presente de Jesus Cristo para os pais dos noivos, para os noivos, para os convidados: uma superabundância de vinho para os muitos brindes e a alegria de todos.

Assim ora Jesus Cristo, na véspera de sua crucificação: “Pai é chegada a hora, glorifica a teu filho, para que o Filho glorifique a ti” (Jo 17.14).

A glória de Deus se manifestou de forma plena em Caná e no Calvário.

A glória de Deus, portanto, ouso afirmar, é que os homens sejam felizes, façam festa, se confraternizem e se alegrem. A glória de Deus é atenuar e reverter os efeitos da queda, do mal, do pecado, da enfermidade, da tristeza e da morte que afligem a humanidade.

A glória de Deus é a salvação e a alegria dos homens. Deus é aquele que se doa amorosamente para nos salvar e nos alegrar. Aquele que toma sobre si nossos pecados, nossas enfermidades e nossas tristezas. Ele vai até o fim no seu desejo de nos amar, amar cada um de nós.

É por isso que em Caná e no Calvário penetramos no mistério da glória de Deus. Sua glória se manifesta de forma plena, irrefutável, pois o Filho Jesus Cristo, o Deus encarnado, se alegra com os homens em suas festas, mas também assume sobre si a tragédia humana por amor da humanidade. Ele nos salva e enche nosso coração de paz e de alegria.

Só mesmo através do Espírito Santo podemos contemplar a glória de Deus na alegria de Caná e na humilhação do Calvário. São manifestações sublimes do amor de Deus, que expressam aquilo que Ele é no mais íntimo de sua natureza.

Esta doação sem limites de Deus é melhor compreendida em Caná e no Calvário do que no Mar Vermelho e no Sinai. Ou seja, percebemos com mais nitidez a glória de Deus no seu desejo de que os homens sejam salvos, sejam felizes.

A glória de Deus é seu amor irretribuível, imerecido, incondicional, que se manifesta quando Ele se doa inteiramente a nosso favor, quando Ele faz o milagre para a festa não acabar antes da hora, quando Ele morre na cruz para nos perdoar e nos salvar.

A glória de Deus consiste em amar a humanidade perdida. Na prontidão do Filho para perdoar e salvar, e penetrar no nosso coração através do Espírito Santo, e nos encher de paz e alegria.

Glória para homens significa fama, poder, riqueza. A glória de Deus é o oposto; significa esvaziamento, doação, o desejo do bem-estar do outro.

Manifestamos a glória de Deus quando nos abrimos ao milagre de Caná e ao sacrifício da cruz, e assim nos tornamos pessoas alegres, esperançosas, generosas, perdoadoras e amorosas.

08/05/2008

Qualidade na vida cristã

Qualidade na vida cristã

Russel Shedd

“Ele é bom cristão” resume em poucas palavras o que queremos dizer ao falarmos sobre uma vida cristã de alta qualidade. Desejo refletir uns minutos sobre o que deveria significar uma avaliação como esta.

Para muitos, provavelmente a maioria, ser um bom cristão significa cumprir algumas regras, tais como ler a Bíblia, orar, freqüentar uma igreja, pagar suas contas em dia, e, inclusive, dizimar. É ser uma pessoa confiável e honesta, um homem que não assedia outra mulher, mas que ama sua própria esposa. Ele se identifica como “cristão” ou talvez “crente”, e uma vez ou outra tenta persuadir um colega de trabalho que deve “aceitar a Cristo”. Tem certeza de que vai para o céu e sente pena dos que não crêem como ele crê.

Certamente, todas essas práticas devem caracterizar um cristão evangélico, porém não identificam o que é um bom cristão do ponto de vista de Jesus ou de um dos escritores do Novo Testamento. Para os que foram criados na igreja, especialmente os crentes de segunda ou outra geração, o ideal seria procurar com mais cuidado se passará pelo juízo de Deus ileso. A questão central é: todas as práticas externas que identificam cristãos do ponto de vista humano são fruto de um coração transformado ou não?

Práticas ou obras demonstram a forma do cristianismo que o indivíduo abraça, mas não a motivação. A religiosidade pode ser a marca registrada do farisaísmo que Jesus denunciou durante seu ministério terreno. Túmulos caiados por fora não garantem um perfume de butique por dentro! Os homens atentam para ações externas; Deus, porém, olha para o coração.

Jean Nicolas Grou, século 18, apontou a diferença entre a pessoa preocupada com as aparências cristãs e aquele que ama ao Senhor de todo o coração. “Dar o coração e a mente para Deus para que eles não sejam mais nossos, para assim fazer o bem sem ter consciência disso, para orar incessantemente e sem esforço como se respirássemos; para amar sem deixar diminuir nosso sentimento, que é o perfeito esquecimento de si mesmo e que nos lança para Deus como o bebê descansa no peito da mãe” (Refrigério para a Alma, Shedd Publicações, p. 142).

A verdadeira religião tem um componente necessário: o amor pelo Senhor. O primeiro mandamento aparece três vezes nos evangelhos. Foi endossado por Jesus, que pronunciou o segundo mandamento como semelhante ao primeiro em importância. Os dois mandamentos destacam o relacionamento amoroso de alguém para com Deus e com os irmãos. “Se alguém não ama ao Senhor, seja amaldiçoado”, declara Paulo.

Jesus perguntou a Pedro, três vezes, se ele o amava. Seguir a Jesus durante três anos e declarar enfaticamente sua lealdade pelo Senhor não foi suficiente para segurá-lo na hora da provação. O medo, a assombrosa realidade de acompanhar Jesus para a “toca dos leões”, o desestruturou de tal modo que quebrou sua intenção de ficar leal para com Jesus. Pelo sinal exterior, Pedro era apóstata. Pelo coração, ele podia dizer, honestamente: “Tu sabes que eu te amo”! O resto de sua vida e ministério confirmam que ele amava ao Senhor de verdade.

A prática evangélica de convidar pessoas para, numa reunião, irem à frente, levantarem a mão ou receberem a marca do batismo, não pode ser mais do que um sinal externo de interesse em se identificar ou concordar com a veracidade da mensagem. Nascer de novo quer dizer nascer do Espírito e, por meio dele, experimentar o derramamento do amor de Deus no coração.

“O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gl 5.22,23, NVI).

Nenhuma certeza pode ser mais importante do que a certeza da eterna salvação. Nenhuma mentira pode ser mais perniciosa do que uma falsa segurança sobre o destino eterno da alma. O auto-exame que Paulo pediu aos coríntios não é opcional. Um diagnóstico correto de nosso relacionamento com Deus supera em muito a importância de uma consulta médica no caso de suspeita de um câncer incurável.

06/05/2008

A PALAVRA NAS RUAS

A palavra nas ruas
Philip Yancey

“Se você está escrevendo um livro sobre oração, você deveria passar algum tempo com os sem-teto”, disse à minha esposa uma veterana no ministério urbano. “Pessoas da rua oram como uma necessidade, e não um luxo.”

O conselho dela fez sentido, principalmente depois que eu entrevistei Mike Yankoski, um estudante da faculdade Westmont College que, junto com um amigo, abandonou a escola por cinco meses para viver nas ruas. O livro dele, Under the Overpass (Debaixo da passarela) conta a história. Mike me falou que os sem-teto, tendo alcançado o fundo do poço, não perdem tempo construindo uma imagem ou procurando conforto. E eles oram sem pretensão, num contraste com o que encontramos em algumas igrejas.

Mike estima que um quarto dos sem-teto que ele conhece têm uma fé cristã ativa. Quando visitei uma casa de café para desabrigados em Denver, não foram poucas as pessoas de rua que encontrei que se dispunham a falar sobre oração. Ben, um contorcido e articulado homem, que tinha freqüentado uma faculdade, me contou de várias experiências de oração. Ele disse: “Deus me mandou um ciclista com as ferramentas necessárias para que eu pudesse consertar o carro de umas pessoas que tinham me oferecido carona. Pense na possibilidade de isso acontecer na cidade de Salina, no Kansas!”

Ao ouvir os sem-teto relatando as suas orações, fui atingido por estas súplicas realistas e as suas semelhanças com a oração do Senhor. “O pão nosso de cada dia”: todos eles tinham histórias de ficar sem comida, orar e, então, achar uma panqueca ou uma pizza intacta. “Livra-nos do mal”: vivendo nas principais ruas, esses crentes oram isso diariamente. “Perdoa as nossas dívidas”: no fundo, cada um deles carrega segredos de vergonha e arrependimento.

Depois de 25 anos de ministério entre os sem-teto, John, um conselheiro experiente, tem uma teoria: muitos dos desabrigados sofrem do problema de como se ligar a uma coisa. Na infância, eles nunca aprenderam a se ligar a seus pais ou outras pessoas, e nunca aprenderam a se conectar com Deus também. Eles acham difícil assumir um compromisso, se abrir e confiar. Eles vêem o mundo como um lugar inseguro e estranho.

John notou que esse efeito de agitação é um descontrole. “Algumas vezes, as pessoas com quem eu trabalho vão à loucura porque não agüentam estar sozinhas com seus pensamentos obscuros e seus segredos. Um amigo meu trabalhava em um ministério parecido com o nosso. Ele tinha segredos sobre falências e pressões financeiras que nunca contou para ninguém. Um dia, sua esposa entrou em casa e o encontrou pendurado por uma corda amarrada ao corrimão”.

Do meu tempo com os sem-teto, aprendi um novo significado para a oração. Ela pode ser um lugar seguro para desabafar segredos. Alguns de nós somos afortunados o suficiente para ter um companheiro ou um amigo de confiança para dividir nossos segredos. Senão, pelo menos temos Deus, que conhece os nossos segredos antes mesmo que nós os confessemos.

O fato de ainda estarmos vivos, e sermos amados, demonstra que Deus tem mais tolerância por qualquer coisa que esses segredos representam do que o crédito que damos a Ele.
“Se eu estiver certo sobre esses distúrbios”, John disse, “o melhor ministério que eu posso oferecer é um relacionamento a longo prazo. Espero que, através desses anos e décadas, algumas pessoas de rua tenham aprendido a confiar em mim como alguém a quem podem contar seus segredos. Espero que essa confiança gradualmente se espalhe para Deus.

Digo às pessoas que trabalham com os sem-teto que o contato visual e a conversa podem ser mais importantes que comida, dinheiro ou versículos bíblicos. Eles precisam se conectar de uma forma simples com outro ser humano, alguém que os vê como pessoas dignas.”

Alguns dias depois, encontrei um poema de Rainer Maria Rilke, escrito na forma de uma oração:

“Faça com que os pobres não mais sejam desprezados e abandonados.

Olhe para eles como se esperassem como flores selvagens, que não têm mais onde crescer”.

(Tradução de Rachel Vieira Belo de Azevedo)

04/05/2008

A MALDIÇÃO DA CULPA

A maldição da culpa
(JOHN PIPER)

A culpa não deve nos deixar inertes e abalados diante de um pecado confesso e já perdoado.

Em 26 anos de pastorado, o mais perto que eu havia chegado de ser demitido da Igreja Batista Bethlehem foi em meados da década de 1980, depois de escrever um artigo intitulado Missões e masturbação para nosso boletim. Eu o escrevi ao voltar de uma conferência sobre missões presidida por George Verwer, presidente da Operação Mobilização. No evento ele disse como seu coração pesava pelo imenso número de jovens que sonhavam em obedecer completamente a Jesus, mas que acabavam se perdendo na inutilidade da prosperidade americana. A sensação constante de culpa e indignidade por causa de erros sexuais dava lugar, pouco a pouco, à falta de poder espiritual e ao beco sem saída da segurança e conforto da classe média.
Em outras palavras, o que George Verwer considerava trágico – e eu também considero – é que tantos jovens abandonem a causa da missão de Cristo porque ninguém lhes ensinou como lidar com a culpa que se segue ao pecado sexual. O problema vai além de não cair; a questão é como lidar com a queda para que ela não leve toda uma vida para o desperdício da mediocridade. A grande tragédia não são práticas como a masturbação ou a fornicação, e nem a pornografia. A tragédia é que Satanás usa a culpa decorrente desses pecados para extirpar todo sonho radical que a pessoa teve ou poderia vir a ter. Em vez disso, o diabo oferece uma vida feliz, certa e segura, com prazeres superficiais, até que a pessoa morra em sua cadeira de balanço, em um chalé à beira de um lago.
Hoje de manhã mesmo, Satanás pegou seu encontro das duas da manhã – seja na televisão ou na cama – e lhe disse: “Viu? Você é um derrotado. O melhor é nem adorar a Deus. Você jamais conseguirá fazer um compromisso sério para entregar sua vida a Jesus Cristo! É melhor arrumar um bom emprego, comprar uma televisão de tela plana bem grande e assistir o máximo de filmes pornográficos que agüentar”. Portanto, é preciso tirar essa arma da mão dele. Sim, claro que quero que você tenha a coragem maravilhosa de parar de percorrer os canais de televisão. Porém, mais cedo ou mais tarde, seja nesse pecado ou em outro, você vai cair. Quero ajudá-lo a lidar com a culpa e o fracasso, para que Satanás não os use para produzir mais uma vida desperdiçada.
Cristo realizou uma obra na história, antes de existirmos, que conquistou e garantiu nosso resgate e a transformação de todos que confiarem nele. A característica distintiva e crucial da salvação cristã é que seu autor, Jesus, a realizou por completo fora de nós, sem nossa ajuda. Quando colocamos nele a fé, nada acrescentamos à suficiência do que fez ao cobrir nossos pecados e alcançar a justiça que é considerada nossa. Os versículos bíblicos que apontam isso com mais clareza estão na epístola de Paulo aos Colossenses 2.13-14: “Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões e cancelou o escrito de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz”.
É preciso pensar bem nisso para entender plenamente a mais gloriosa de todas as verdades: Deus pegou o registro de todos os seus pecados – todos os erros de natureza sexual – que deixavam você exposto à ira. Em vez de esfregar o registro em seu rosto e usá-lo como prova para mandar você para o inferno, Deus o colocou na mão de Seu filho e pregou na Cruz. E quem são aqueles cujos pecados foram punidos na cruz? Todos que desistem de tentar salvar a si mesmos e confiam apenas em Cristo. E quem assumiu essa punição? Jesus. Essa substituição foi a chave para a nossa salvação.
Alguma vez você já parou para pensar no que significa Colossenses 2.15? Logo depois de afirmar que Deus pregou na cruz o registro de nossa dívida, Paulo escreve que o Senhor, “tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz”. Ele se refere ao diabo e seus exércitos de demônios. Mas como são desarmados? Como são derrotados? Eles possuem muitas armas, mas perdem a única que pode nos condenar – a arma do pecado não perdoado. Deus pregou nossas culpas na cruz. Logo, houve punição por elas – então, seus efeitos acabaram! O problema é que muitos percebem tão pouco da beleza de Cristo na salvação que o Evangelho lhes parece apenas uma licença para pecar. Se tudo que você enxerga na cruz de Jesus é um salvo-conduto para continuar pecando, então você não possui a fé que salva. Precisa se prostrar e implorar a Deus para abrir seus olhos para ver a atraente glória de Jesus Cristo.

Culpa corajosa – A fé que salva recebe Jesus como Salvador e Senhor e faz dele o maior tesouro da vida. Essa fé lutará contra qualquer coisa que se coloque entre o indivíduo salvo e Cristo. Sua marca característica não é a perfeição, nem a ausência de pecados. Quem enxerga na cruz uma licença para continuar pecando não possui a fé que salva. A marca da fé é a luta contra o pecado. A justificação se relaciona estreitamente com a obra de Deus pregando nossos pecados na cruz. Justificação é o ato pelo qual o Senhor nos declara não apenas perdoados por causa da obra de Cristo, mas também justos mediante ela. Cristo levou nosso castigo e realiza nossa retidão. Quando o recebemos como Salvador e Senhor, todo o castigo que ele sofreu, e toda sua retidão, são computados como nossos. E essa justificação vence o pecado.
Possuímos uma arma poderosa para combater o diabo quando sabemos que o castigo por nossas transgressões foi integralmente cumprido em Cristo. Devemos nos apegar com força a essa verdade, usando-a quando o inimigo nos acusar pelas nossas faltas. O texto de Miquéias 7.8-9 apresenta o que devemos lhe dizer quando ele zombar de nossa aparente derrota: “Não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei (...) Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito”. É uma espécie de “culpa corajosa” – o crente admite que errou e que Deus está tratando seriamente com ele. Mas, mesmo em disciplina, não se afasta da bendita verdade de que tem o Senhor ao seu lado!
Há vitória na manhã seguinte ao fracasso! Precisamos aprender a responder ao diabo ou a qualquer um que nos diga que o Senhor não poderá nos usar porque pecamos. “Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei”, frisou o profeta. “Embora eu esteja morando nas trevas, o Senhor será a minha luz.” Sim, podemos estar nas trevas da iniqüidade; podemos sentir culpa, porque somos, realmente, culpados pelo nosso pecado. Mas isso não é toda a verdade sobre o nosso Deus. O mesmo Deus que faz nossa escuridão é a luz que nos apóia em meio às trevas. O Senhor não nos abandonará; antes, defenderá a nossa causa.
Quando aprendermos a lidar com a culpa oriunda de nossos erros com esse tipo de ousadia em quebrantamento, fundamentados na justificação pela fé e na expiação substitutiva que Cristo promoveu por nós, seremos não apenas mais resistentes ao diabo como cometeremos menos falhas contra o Senhor. E, acima de tudo, Satanás não será capaz de destruir nosso sonho de viver uma vida em obediência radical a Jesus e de serviço à sua obra.

03/05/2008

Hoje tudo muda. Mas não a fé

Hoje tudo muda. Mas não a fé

Os novos tempos trazem preocupações e ocupações que influenciam nossas convicções, valores, família e até doutrina

Tudo muda neste mundo. Vivemos em uma sociedade cuja dinâmica atinge até mesmo nossas mais profundas convicções, sejam os valores culturais, familiares ou doutrinários. Percebemos uma forte influência dos novos tempos, por meio da multiplicidade de oportunidades e ocupações oriundas da própria modernidade e do avanço tecnológico deste século 21. Ao mesmo tempo em que temos nossa vida facilitada por esses avanços, vemos os princípios essenciais da vida cristã perdendo força.

Pense, por exemplo, sobre o tempo que mantivemos em contato com a Palavra de Deus, estudando, pesquisando e recebendo do próprio Senhor o entendimento direto das verdades das Escrituras, sendo edificados e renovados espiritualmente. Pense sobre o tempo que dedicamos à comunhão com Jesus e ao relacionamento com a pessoa do Salvador, pela oração, agradecendo-lhe por seu amor, graça, misericórdia e perdão. Imagine para onde está indo nossa vida comunitária, no Corpo de Cristo, lugar em que partilhamos da unidade de propósitos na família de Deus, cultuamos ao Senhor, temos ações de graças e recebemos sua mensagem por meio da Bíblia Sagrada. Com a enormidade de compromissos pessoais, profissionais e sociais que assumimos, participamos de cultos uma a duas vezes por semana, com duração de, no máximo, uma hora e meia.

Para onde estamos indo? Outra situação que causa preocupação é a facilidade com que os relacionamentos familiares são rompidos, gerando seqüelas na vida dos filhos e marcas profundas na sociedade. São várias as facetas da vida humana que vêm sendo bombardeadas em seus valores. Vivemos uma era em que princípios absolutos dão espaço a conceitos relativos.

Até mesmo a proclamação do Evangelho, pressuposto básico da fé cristã, tem se esvaziado cada vez mais. A grande comissão determinada pelo Senhor aos seus servos está, cada vez mais, sendo deixada de lado – inclusive, em seu sentido mais amplo, aquele praticado fora das quatro paredes da igreja: a extensão da vida comunitária como estilo de vida, em que os crentes choram com os que choram, lembram-se dos presos, dos doentes, dos famintos, dos que têm sede e frio; enfim, de todos aqueles que estão fora do rebanho do Senhor.

Tudo neste mundo muda, mas devemos continuar na proposta bíblica de seguir o modelo de Jesus Cristo. Que a Igreja chamada Evangélica seja despertada e mobilizada para impactar a sociedade dos nossos dias.

Micmas Pereira
Pastor e coordenador do Centro Nacional de Capelania Geral.

As casas e as verdades.

21/04/2008 - 18:04 por Ed René Kivitz

As casas e as verdades
Assim como uma casa se faz com tijolos, mas uma pilha de tijolos não é uma casa, também uma verdade cristã se faz com versículos – mas um amontoado de versículos não equivale necessariamente a uma verdade bíblica.

Era uma manhã ensolarada e a caminhada já se estendia. A cidade estava logo ali. Antes da chegada, a fome. E depois da fome, uma figueira. Jesus se aproxima da planta esperando colher algum fruto. Mas encontrou apenas folhas. Não teve dó nem piedade – amaldiçoou a figueira, e deixou seus discípulos assombrados. Depois deu uma bronca em todo mundo e vaticinou: quem tiver fé, ainda que do tamanho de um grão de mostarda, vai mandar esse monte sair do lugar e ele vai obedecer. No meio dessa coisa toda, Jesus ainda encontra tempo para, literalmente, chutar o balde dos comerciantes do templo, que haviam transformado a casa do Pai em covil de ladrões.
O que uma cidade, uma figueira, um monte, um templo e a fé estão fazendo juntos nesta cena? Aliás, observe. Caso não tenha percebido, eles estão juntos. Não são episódios estanques, separados: o da figueira, o do templo e o aforismo sobre a fé. São peças de um quebra-cabeças que, montadas, deixam claro como o sol do meio-dia o que Jesus estava querendo dizer. Já, já, a gente chega lá. Mas quero contar outra história. Certa ocasião, Cristo se deparou com um homem dominado por espíritos malignos. “Legião”, disseram, ao responder qual era seu nome. Diante do Filho do Deus Altíssimo, os demônios pediram que Jesus os deixasse entrar nos porcos, perto de dois mil. Jesus consentiu. Em seguida, os porcos se lançaram ao lago de Genezaré e se afogaram. O pessoal da região ficou louco da vida com Jesus e pediu que ele fosse embora daquele lugar.
Não tenho dúvidas de que você já ouviu e leu centenas de meditações baseadas nestes dois episódios da caminhada de Jesus com seus discípulos. Provavelmente, alguém já disse que seus problemas são como aquele monte citado pelo Mestre, e que podem ser superados pela fé. Não importam quais sejam seus embaraços, seus problemas, suas angústias e as razões do seu sofrimento; basta ter fé. Afinal, a fé remove montanhas, isto é, com fé a gente vence qualquer dificuldade.
Também deve ter ouvido a respeito da autoridade de Jesus sobre os espíritos malignos, o que é absolutamente verdadeiro. E não é pouca autoridade, não. O Senhor deu conta de expulsar dois mil demônios de um homem de uma vez só. Eles fizeram fila e saíram um de cada vez. Então, imagine o que Cristo não é capaz de fazer com um demoniozinho tupiniquim! Principalmente, no palco de uma igreja evangélica. Com base na história do gadareno e sob a intercessão das mãos estendidas dos fiéis, os pastores se enchem de coragem e repetem sua fórmula infalível: “Sai desse corpo que não te pertence”.
Será que estes episódios se prestam apenas a ensinar a respeito do poder da fé para vencer dificuldades na vida e acerca da autoridade de Jesus sobre o diabo e seus asseclas? Ou haveria algo mais nas entrelinhas das narrativas? Fico com a segunda alternativa: os Evangelhos – decerto, a Bíblia toda – contêm linguagem cifrada, códigos secretos que comunicam verdades profundas, perfeitamente percebidas pelos circunstantes, porém raramente alcançadas pelos leitores contemporâneos.
Mas, e a figueira, a cidade, o templo? O que fazer com essas figuras? Vamos lá. Primeiro, o caso da figueira. Sabemos que essa árvore é um símbolo que identifica a nação de Israel. Assim também a cidade, o templo, e o monte. A cidade é Jerusalém, onde está o Templo de Salomão, no monte Sião. Jesus faz a limpa, cumprindo a profecia de Malaquias – “Logo virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais” – e a de Zacarias: “E, naquele dia, não haverá mais mercadores na casa do Senhor dos exércitos”.
Jesus deixa claro que Israel é uma figueira estéril, sem frutos, o que é demonstrado pela profanação do Templo e deturpação de sua religião. A nação é amaldiçoada; Sião deixará de ser o centro da revelação de Deus e Israel será preterida por um povo com quem Deus celebrará uma nova aliança – em Jesus, e não mais em Moisés: “É evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé”.
A fé que remove montanha não é a fé individual, aquela porção de fé de cada crente, mas coletiva, do povo da nova aliança: “Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de aio. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão”.
O monte removido pela fé não é a dificuldade particular de cada crente, mas Sião, o monte santo, que não se abala – ou melhor, não se abalava, até que Israel rejeitou o Messias, que conforme a Escritura, veio para os seus, mas não foi recebido por eles. Em Cristo, a Igreja – o povo da fé – recebe todos os títulos que pertenciam a Israel: “Geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido”. A fé remove o Monte Sião. Portanto, da próxima vez que alguém lhe disser que a fé remove montanhas, diga que já removeu. Sião não é mais o que era. A figueira secou. E nasceu a Igreja, povo de Deus, povo da fé.
A mesma coisa acontece com a história do endemoninhado gadareno. Os espíritos imundos chamam a si mesmos de Legião, numa clara e explícita referência ao poderio militar romano. Assim como os opressores egípcios se afogaram no Mar Vermelho, quando com mão forte Yahweh libertou Israel pelas mãos de Moisés, também os opressores romanos estavam se afogando no Mar da Galiléia, sob as ordens daquele que ousou pronunciar “ouvistes o que foi dito por Moisés; eu, o Messias, porém, vos digo”.
Da próxima vez que alguém lhe disser que Jesus é maior que os demônios, concorde. Mas acrescente – ele é também maior que Moisés. E maior que o Egito, a Babilônia, a Pérsia. É também maior que Roma. Maior que os espíritos malignos que agem nas entranhas do mundo, que jaz no maligno. E, porque maior que tudo e todos, é Senhor e libertador, aqui e agora, ali e além; Rei de um reino que não terá fim.
Assim como uma casa se faz com tijolos, mas uma pilha de tijolos não é uma casa, também uma verdade cristã se faz com versículos – mas um amontoado de versículos não equivale necessariamente a uma verdade bíblica. Uma casa é resultado de um processo inteligente de ordenação harmoniosa de tijolos, todos agrupados conforme determinado projeto. Assim também, a verdade do Evangelho possui sua lógica. Fora dessa lógica intrínseca, versículos não passam de tijolos.

O QUE HÁ DE ERRADO COM NOSSA ESPIRITUALIDADE?

21/04/2008 - 14:07 por Eugene Peterson

O que há de errado com a nossa espiritualidade?
Sabemos que o Espírito Santo, ao longo de toda a Bíblia, fornece ao homem o mapa da verdadeira espiritualidade.

Falar de espiritualidade neste mundo do século XXI é falar de um tema cuja relevância salta aos olhos. Diante de uma sociedade faminta por significado existencial, sedenta pelas coisas da alma humana e cada vez mais curiosa sobre Deus, é fundamental que a Igreja de Cristo não se furte a ensinar e pregar as Sagradas Escrituras. Na verdade, isso sempre foi necessário desde a proclamação do célebre “Ide” – mas há hoje uma urgência contemporânea pela anunciação das boas novas do Evangelho, porque somos cercados por “espiritualidades” que, ignorando a pessoa de Jesus, desenvolvem-se a partir das muitas e variadas experiências de cada um. Sabemos que o Espírito Santo, ao longo de toda a Bíblia, fornece ao homem o mapa da verdadeira espiritualidade. As histórias que ela conta nos convidam a um outro mundo que não o nosso – um mundo maior que nós mesmos. As histórias bíblicas nos convidam ao mundo da criação, da salvação e da bênção de Deus.
Evidentemente, todo o cânon sagrado é um texto integral – mas o evangelho de Marcos, o segundo livro do Novo Testamento, tem certa primazia. Afinal, ninguém nunca havia escrito um evangelho cristão quando Marcos escreveu o dele. Com isso, criou um novo gênero. Sua forma de escrever que logo se tornou fundamental e formativa para a vida da Igreja e do cristão. Isso veio contrastar com a preferência antiga pela criação de mitos, prática que reduzia os humanos a meros espectadores do sobrenatural. Também vai de encontro à predileção moderna pela filosofia moral, concepção que nos torna responsáveis por nossa própria salvação.
A história narrada no evangelho segundo Marcos é o relato verbal da realidade que, como seu assunto – a Encarnação – é, ao mesmo tempo, divina e humana. Ela revela algo que jamais concluiríamos por nossa própria observação, experiência ou suposição; e, ao mesmo tempo, nos envolve, colocando-nos na ação como receptores e participantes, sem jogar para nós a responsabilidade de fazer tudo dar certo. As implicações disso para nossa espiritualidade são enormes, já que a forma, por ela mesma, nos protege das duas principais práticas que levam a pessoa a se afastar do caminho certo: a de viver como espectador leviano dos fatos, exigindo sempre atrativos novos e mais exóticos vindos do céu; ou como moralista ansioso, aquele que toma sobre seus ombros todas as cargas do mundo. A própria forma do texto molda em nós reações que tornam muito difícil sermos simples espectadores ou moralistas. Não estamos diante de um texto que podemos dominar. Pelo contrário – somos dominados por ele.
A espiritualidade é a atenção que damos à alma, ao mundo interior invisível de nossa vida – um mundo que é a essência de nossa identidade, esta alma à imagem de Deus que engloba toda nossa individualidade e glória. A espiritualidade pode parecer uma coisa maravilhosa, mas vinte séculos de experiência cristã diminuíram bastante o entusiasmo que ela outrora provocava. E sua prática não se mostra tão maravilhosa. Olhando para nossa história, não nos admiramos ao verificar que a espiritualidade costuma ser vista com desconfiança, quando não com hostilidade declarada. Isso acontece porque, na prática, e com muita freqüência, ela se transforma em neurose. Em nossos dias, temos visto a espiritualidade – ou uma suposta espiritualidade – descambar para o egoísmo, principalmente quando vira mera pretensão.
Mas como isso pode acontecer? A resposta é simples: isso acontece quando nos afastamos da história do Evangelho de Cristo e adotamos a nossa própria experiência, e por quê não dizer, a nós mesmos como elemento fundamental e autorizado da espiritualidade. Passamos a fazer a exegese em nós mesmos como se fôssemos textos sagrados. Não jogamos o Evangelho fora; contudo, ele fica na prateleira e pensamos que lhe conferimos honra consultando-o de vez em quando, como uma obra de referência indispensável. Por outro lado, nossos orientadores espirituais nos ensinam que somos seres gloriosos e almas preciosas. Somos levados a acreditar que nosso anseio pela santidade, bondade e verdade é magnífico. Mas a espiritualidade não está em nós mesmos, pois o próprio Deus revelou que ela está em Jesus. Como em tudo nesta vida, espiritualidade é coisa que se aprende – e o evangelho segundo Marcos é um texto didático para se entender o que é a espiritualidade.
Tomamos o texto e lemos a história de Jesus, uma história estranha. Na verdade, o evangelista conta muito pouco do que nos interessa em uma história. Não ficamos sabendo sobre Jesus praticamente nada do que queremos saber. Não há descrição da sua aparência; nada ali é dito sobre sua origem, sobre quem eram seus amigos. Informações sobre a educação que recebeu, ou sobre sua família, são inexistentes. Fica difícil avaliar ou entender uma pessoa sem esses dados. E também há muito pouca referência ao que o filho de José e Maria pensava e sentia, suas emoções e lutas interiores. Embora Jesus seja a pessoa mais citada, o texto é surpreendentemente reticente quanto a ele
A certa altura, porém, entendemos que se trata de uma história sobre Deus e sobre nós. Jesus é a revelação de Deus; então, quando nos defrontamos com ele, encaramos o que há em Deus. A narrativa abrange outros personagens, claro, e são muitos: os doentes, os famintos, as vítimas sociais, os excluídos. Mas Jesus é sempre o centro. Nenhum evento acontece e nenhuma pessoa aparece sem ele. Ali, Cristo subsiste tanto no contexto quanto no conteúdo da vida de todos. A espiritualidade, a atenção que dedicamos à nossa alma, transforma-se quando permitimos que o livro de Marcos dê forma a nossa prática. O texto nos ensina essa percepção: linha após linha, página após página, o conteúdo é sempre o mesmo: Jesus, Jesus e mais Jesus. Nenhum de nós é capaz de fornecer o conteúdo de nossa própria espiritualidade, pois ela nos é concedida por Jesus. O texto não dá margem a exceções.

A morte de Jesus – Lendo o texto do Evangelho conforme o escreveu Marcos, logo descobrimos que toda a história se canaliza para a narração dos acontecimentos de uma única semana da vida de Jesus – justamente a semana crucial da paixão, morte e ressurreição do Filho de Deus. E, dos três eventos, sua morte é apresentada com mais detalhes. Se nos pedissem para dizer com o menor número possível de palavras qual é o conteúdo do livro de Marcos, deveríamos responder: “A morte de Jesus”. A princípio, não parece um conteúdo muito promissor, especialmente para os que procuram um texto que os oriente na vida, capaz de alimentar a alma. Mas é assim. A história possui dezesseis capítulos. Nos oito primeiros, Jesus aparece vivo, passeando sem pressa pelas vilas e caminhos da Galiléia, levando vida às pessoas. De repente, bem na hora em que atrai a atenção de todo mundo, Marcos começa a falar sobre morte. Os oito capítulos finais de seu evangelho são dominados por palavras de morte.
O prenúncio da morte de Cristo assinala também uma mudança de ritmo. A narrativa, na primeira metade do livro, apresenta características de tranqüilidade e descreve os movimentos do Mestre em um ambiente quase idílico. Porém, isso muda diante da tragédia anunciada, a partir do momento em que Jesus dirige-se diretamente para Jerusalém, onde seria martirizado. Urgência e gravidade passam a caracterizar a narrativa. Muda a direção, o ritmo, o clima. Jesus é explícito em três ocasiões: ele irá sofrer, será morto e ressurgirá, conforme se lê, respectivamente, em Marcos 8.31; 9.31; e 10.33-34. E acontece a morte, descrita em seus horrores com detalhes e a precisão digna de um arguto observador. Nenhum outro acontecimento da vida de Jesus foi contado com tantas minúcias. Não há como duvidar da intenção de Marcos de deixar bem claro que o enredo, a ênfase e o significado de Jesus residem em sua morte. E o evangelista faz questão de definir este sacrifício como voluntário. Jesus não era obrigado a ir para Jerusalém; fê-lo por sua própria vontade. Explicitamente, concordou com sua própria morte. Logo, não foi um episódio acidental, tampouco inevitável. Ele aceitou a morte para que os outros pudessem receber vida – ou, conforme o texto, veio para “dar a sua vida em resgate por muitos”.
Sintomaticamente, cada um dos três anúncios explícitos da morte de Cristo é concluído com o anúncio da ressurreição. A história daquele evangelho, como um todo, se encerra com o testemunho da ressurreição. Isso não dá menor valor à morte, mas a torna muito diferente do que estamos acostumados a pensar. As idéias de tragédia e procrastinação são as palavras que caracterizam a atitude de nossa cultura diante da morte. Herdamos dos gregos esta visão trágica da finitude humana. Eles escreviam textos primorosos sobre mortes trágicas – vidas ceifadas por obra de forças grandes e impessoais, circunstâncias indiferentes ao heroísmo e esperança do ser humano.
Já a tentativa de procrastinar a morte ao máximo é legado da medicina moderna. Em nossa cultura, a vida é reduzida a batimentos cardíacos, circulação sangüínea, impulsos cerebrais. Como as pessoas só levam em conta sobre a vida o que a biologia pode estudar – sem enxergar sentido, espiritualidade, nem eternidade –, as tentativas de afastar, adiar e negar a morte são cada vez mais intensas. O detalhe é que não houve procrastinação na morte de Jesus. É necessário, portanto, irmos contra nossa cultura, permitindo que o vigoroso relato de Marcos molde nosso entendimento de modo a entendermos nossa própria morte dentro das ricas dimensões e relações da história de Jesus.

O asceta e o esteta – Bem no centro do evangelho segundo Marcos há uma passagem que pode ser considerada o cerne da espiritualidade do texto e consiste de duas histórias. Na primeira, Jesus chama os discípulos à renúncia, quando eles partem para Jerusalém. É a dimensão asceta da espiritualidade. Já o segundo relato, o da transfiguração de Cristo no Monte Tabor, fornece a dimensão estética dessa mesma espiritualidade. As histórias são cercadas, nas duas extremidades, por afirmações da verdadeira identidade de Jesus como Deus entre nós. Pedro afirma: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. No final, uma voz vinda do Céu declara: “Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!”. Era o testemunho humano sendo legitimado pela confirmação divina.
Essas histórias possuem uma conexão orgânica, um ritmo binário e uma teologia espiritual única. Elas reúnem os movimentos ascetas e estéticos, o sim e o não que atuam juntos no coração da teologia espiritual. O ascetismo aparece circunscrito nas palavras do Salvador, que são breves e diretas: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8.34). Fica evidente que Jesus vai a algum lugar e nos convida para irmos com ele. É um convite, sim, à renúncia. Sempre há um forte elemento ascético na teologia verdadeiramente espiritual. Seguir Jesus implica em não seguir nossos impulsos, apetites, caprichos e sonhos, pois tudo isso foi danificado pelo pecado. Seguir Jesus significa não seguir as práticas de procrastinação e negação da morte, mesmo em uma cultura que, pela busca obsessiva da vida sob a inspiração de ídolos e ideologias, acaba encontrando uma existência tão restrita e degradada que dificilmente merece o nome de vida. Mas a arte de dizer “não” nos deixa livres para seguir Jesus.
Na monumental obra escrita por Marcos, o esteta aparece ao lado do asceta. É o “sim” de Deus em Jesus. Pedro, Tiago e João o vêem transfigurado na montanha, em uma nuvem brilhante, na companhia de Moisés e Elias. Os discípulos viram a beleza da glória do Senhor, e é ela que acabamos por experimentar ao nos aproximarmos do Pai. Há sempre um componente estético forte na verdadeira teologia espiritual. Subir ao monte com Jesus significa deparar-se com uma beleza de tirar o fôlego. Permanecer na companhia dele é contemplar sua glória e escutar a confirmação divina da revelação nele. Aqui está o segredo do Jesus transfigurado. Ele é a forma da revelação, e a luz não cai do alto sobre essa forma, nem vem de fora – antes, brota de seu interior. A única reação adequada a essa luz é manter os olhos abertos para observar o que está sendo iluminado: adoração.
O impulso estético na teologia espiritual relaciona-se a treinar a percepção, isto é, aprender a apreciar o que está sendo revelado em Jesus. Não somos bons nisso, pois o pecado prejudicou nossos sentidos. O mundo, apesar de alardear a celebração da sensualidade, é implacável em anestesiar e esquecer o que é sentir, restringindo a estética ao que se pode encontrar em museus ou jardins. Nossos sentidos precisam de cura e reabilitação para se tornarem adequados a receber e responder às visões e aparições do Espírito Santo de Deus.Nosso corpo, com seus cinco sentidos, não é empecilho para a vida de fé. Nossa sensibilidade não é barreira para a espiritualidade, e sim, o único acesso a ela.
Marcos escolheu mostrar Jesus como a revelação de Deus e fez um relato completo da sua obra na salvação. Somos convidados a participar por inteiro da história de Jesus, e o evangelista nos mostra como fazer isso. Ele não se limita a contar que Jesus é o Filho de Deus; nem a nos dizer que nos tornamos beneficiários de sua expiação. Ele nos convida a morrer a morte de Jesus e a viver sua vida com a liberdade e a dignidade dos participantes. E eis aqui um fato maravilhoso – ficamos no centro da história, sem nos transformarmos nos seus principais protagonistas. Habitualmente, e os crentes sabem bem disso, sempre é perigoso o interesse do indivíduo em si mesmo. A obsessão com as questões da alma fazem com que Deus passe a ser visto como mero acessório da experiência pessoal. É preciso muita vigilância – e a teologia espiritual é, entre outras coisas, o exercício dessa vigilância.
Por isso o evangelho de Marcos é um texto básico para se entender a espiritualidade humana. Suas histórias sobre vida e morte, crucificação e ressurreição, nos mostram e nos ensinam sobre negação e afirmação. Mas não se limitam a isso. Também levam-nos adiante em fé e obediência, para a vida que só se completa, por fim no não definitivo e no sim glorioso do Jesus crucificado e ressurreto.

As Chaves de Deus

27/04/2008 - 15:35 por Dallas Willard

As chaves de Deus
Graça contrasta-se com merecimento, mas não com esforço.

Todo pastor, mais cedo ou mais tarde, enfrenta as demandas contraditórias de ser um profissional e estar no ministério. Isso porque essas duas realidades podem entrar em conflito. Um profissional tem uma agenda a cumprir, credenciais para manter, uma escada profissional a percorrer. Detalhes inadiáveis se sobrepõem à solitude; o tempo necessário à relação com Deus pode ser subtraído por urgências administrativas. A rotina de serviço dá lugar a uma postura de gestor. Assim, uma vida de simplicidade e cuidado de almas é colocada de lado pela ambição e expectativa.
Assim como médicos, advogados e outros profissionais hoje em dia, pastores sentem que suas condições de trabalho estão em conflito com o seu chamado. O crescimento dessa frustração causa a perda da paz e da alegria. Mas, as coisas não precisam ser assim. O próprio Jesus, bem como tantos de seus seguidores ao longo dos tempos, encontraram sua força no servir. O único Deus a quem servimos colocou em nossas mãos as chaves para o Reino, conforme Mateus 16.19. Apesar dos séculos de controvérsias eclesiásticas sobre o significado desta passagem, precisamos entender simplesmente que a nossa confiança em Jesus como o único a quem “foi dada toda a autoridade nos céus e na terra” (Mateus 28.18) nos permite ter acesso às riquezas de seu Reino. Isto nos torna possível realizar nosso trabalho e viver nossas vidas na força, alegria e paz de Cristo.
Possuir as chaves significa primeiramente “aproveitar o acesso”. Imagine um homem que mantém cuidadosamente suas portas fechadas e suas chaves em mãos, mas que nunca entrou em sua casa! Ter acesso ao Reino e viver nele é o que importa. Numa tradução livre, outra célebre passagem do evangelho de Mateus pode ser entendida assim: “Busque mais do que tudo, agir conforme o Reino de Deus e possuir seu tipo de bondade, e todas as outras coisas que você necessitar lhe serão acrescentadas”. Paulo lembrou aos romanos: “Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?”.
Mas se a abundância está aqui, suficiente para derrotar as “portas do inferno”, porque não nos aproveitamos dela? Precisamos de uma chave para as chaves. A abundância de Deus não é recebida passivamente e não nos é outorgada por acaso. A abundância de Deus é reivindicada e colocada em ação por nossa busca inteligente e ação. Precisamos agir em conjunto ao mover da vida do Reino de Deus que vem através do nosso relacionamento com Jesus.
Não podemos fazer isso, é claro, simplesmente sozinhos. Mas precisamos agir. Graça contrasta-se com merecimento, mas não com esforço. Um esforço decisivo, sustentado e bem dirigido é o caminho de acesso às chaves do Reino e a uma vida de força e paz no ministério.

02/05/2008

Evangelho prático

TOMMY TENNEY


O evangelho de Jesus Cristo é um evangelho prático, que é tão ligado com o fazer algo quanto com o ser algo. Boas obras não o levarão para o céu, mas uma vez que você tenha recebido vida nova em Jesus, Ele espera que você faça aquilo que Ele fez, pelo resto de sua vida. É algo natural. Pessoas santas fazem coisas santas ou elas não são santas.
Você pode nunca ressuscitar uma pessoa, mas pode confortar um doente. Você pode nunca ser capaz de abrir os olhos de um cego, mas pode trocar o óleo do carro de uma mãe solteira ou preparar uma refeição para o seu vizinho doente. Você pode não ser chamado para pregar pelas esquinas ou declarar a Palavra de DEUS perante milhares, mas poderia ensinar para uma classe de crianças de 3 anos que Jesus os ama.
Existe algo sobre o servir aos outros que é íntimo e valioso ao coração de DEUS. Uma vez que você comece a servir levando unção aos outros, você pode ser surpreendido pela resposta de DEUS. No meio do seu serviço, você pode perfeitamente experimenar um milagre! A presença de DEUS transformou Estevão de um ungido “garçom” em um ungido operador de milagres nas ruas! (Atos 6.2-6,8).
Eu amo e estimo a maravilha da presença íntima de DEUS, mas meu chamado original e minha paixão de ser um evangelista ganhador de almas nunca deixaram o meu coração ou os meus pensamentos. Um dos meus maiores desejos é ver a igreja levar o poder transformador para as ruas e cidades do mundo. Sabemos o que acontece quando DEUS visita um igreja, mas nós ainda não vimos o que acontece quando Ele visita uma cidade!
DEUS nunca se apaixounou por edifícios e Ele despreza qualquer coisa que O separe de uma amizade íntima com as pessoas que criou: a maior parte dos cristãos está seguramente presa nos rebanhos de centenas de milhares igrejas locais. Ele está procurando pesoas que aceitarão Sua ordem para buscar, servir e salvar aqueles que estão perdidos. DEUS quer que nos aventuremos além das quatro paredes de nossos centros de adoração e templos para levarmos Sua luz para dentro das trevas e nos tornarmos Suas mãos de misericórdia e amor estendidas para aqueles que não O conhecem.
Não é tão importante que preguemos a mensagem do amor de DEUS quanto é que a vivamos e a pratiquemos.
(Trechos do texto “A presença de DEUS deve produzir transformação”, do livro O Segredo de DEUS Para a Grandeza. De Tommy Tenney & David Cape, Editora Atos. À venda em nossa livraria)

01/05/2008

O PERDÃO

A paixão de Cristo foi a demonstração, na história, limitada pelas dimensões da história, do que aconteceu, por necessidade, antes da história.
A paixão de Cristo demonstra, limitada pela história, o castigo que a Justiça impôs a Deus, a comunidade eterna, por decidir perdoar o transgressor.

Custou muito mais caro do que na história se pôde demonstrar.
A paixão de Cristo fala do custo do perdão.

Nenhuma das criaturas perdoadas tem o direito de não perdoar.
Todo perdão que é proferido está incluso na conta que Cristo pagou e que sua paixão demonstrou. Porque tudo o que necessita de perdão é suficiente para que a existência sofra solução de continuidade, porque fere a Justiça.

Justiça não é um “deus”, é uma demanda ética da qual o Deus triúno, por força do seu caráter, não pode se furtar.
Sem a paixão de Cristo nenhum perdão poderia ser proferido.

Por causa do demonstrado pela paixão de Cristo nenhum perdão pode deixar de ser proferido.
Não é mais a justiça que norteia o relacionamento entre as criaturas que foram perdoadas.

Nem é mais a justiça que norteia o relacionamento entre Deus e as criaturas que perdoou.